As vaias para Dilma e para Hulk

A Copa das Confederações começou. A Seleção foi bem e derrotou um Japão de pouquíssimo talento por um placar de clássica superioridade. Neymar voltou a ter sorte nas conclusões, e Fred, mesmo não querendo dar o passe de peito, protegeu o chute do parceiro ao segurar a marcação. Paulinho mostrou que perto do gol é um perigo e longe dele, um leão. Jô resolveu a partida elevando a nota de Oscar, que fez uma de suas mais fracas partidas desde quando era convocado por Mano. A marcação funcionou contra o rival mais fraco do grupo. Que venham México e Itália.
Mas agora falemos de vaias.
Desde sempre, este blog se manifesta a favor de qualquer vaia. Está na minha carta de princípios, que você pode ler aqui. E tivemos dois vaiados no Estádio Nacional Mané Garrincha Stadium Fifa Arena: Dilma e Hulk.






“Brasileiros, não existe Copa na faixa!”
Há muitos motivos para vaiar Dilma. Se a economia vai mal, se o controle inflacionário se desgarra, se há uma derrama de bilhões para construir estádios caríssimos em lugares de pouco futebol – e sim, o orçamento bilionário dos estádios e o aumento dos gastos públicos influenciam diretamente a inflação – , se há questões entre indígenas e ruralistas que atentam contra direitos humanos, e se tudo isto acontece sob o guarda-chuva do mandato dela, qualquer um ou dois desses motivos servem para cornetá-la.
Basta alguém puxar, que outros vão em seguida, como qualquer arquibancada ensina. E não entrem nessa de que Dilma foi vaiada apenas pela elite: a Copa das Confederações tem ingressos a partir de R$ 28,50 (meia entrada) e R$ 57. Se o sujeito que não estiver em pobreza extrema quiser ver um jogo, é possível sim que ele vá. Quem quiser ver luta de classes em tudo vai deixar de ver que há muita insatisfação unindo o país inteiro.
Brasileiro vaia até minuto de silêncio, escreveu Nelson Rodrigues, e ninguém é incornetável, como disse Felipe Portes, o @Portesovic, no Twitter, em frase de alta concisão. Logo, Joseph Blatter pode nos poupar de seus rogos professorais por mais fair-play.
O brasileiro não vai boicotar o futebol. Mesmo com o bode da Seleção, que se faz notar por uma série de motivos, o brasileiro tampouco vai deixar de apoiar o time verde-amarelo. Ninguém em sã consciência vai querer ficar marcado como o cara que não queria festa, no momento em que ela acontecer, a cada feriado que a Seleção tradicionalmente proporciona durante Copas.
Mas o brasileiro boicota a politização do futebol. Desde quando a esquerda radical achava que apoiar o time da Copa de 70 era adesão à ditadura militar. Sabemos muito bem separar o que é política do que é esporte. E isso tampouco significa que deixaremos de ver o jogo que amamos só porque queimaram dinheiro de impostos. Sim, continuaremos a ver futebol em qualquer arena em que ele seja disputado, seja ela superfaturada, com rombo de orçamento ou não, mas quando o político for buscar holofote lá, que ele saiba bem em que terreno está pisando.
A outra vaia que quero destacar é esta contra Hulk, o titular mais desconhecido desta seleção. Não o considero titular – todos sabem que eu preferiria um meio-campo com volantes virtuosos como Paulinho, Hernanes e Ramires, que não agradou Felipão, mais Oscar – mas ainda é um dos melhores nomes que temos. É um jogador de força, arranque e raça. Não desiste de nenhuma jogada. Atua diante de uma das torcidas mais racistas do mundo (Zenit, da Rússia) sem o menor problema. E chuta com enorme força.
O paraibano é o tipo de jogador que exibe o compromisso que sempre exigimos de todos os que atuam na Seleção. É mais força que técnica, porque ainda estranhamos atacantes com corpo de zagueiro, mas é compromisso em igual medida. Talvez seja o mais perto de um atacante de fibra uruguaia entre os que temos.












Se ele atuar mal, que seja vaiado, com a crueldade a que qualquer um que compra o ingresso tem direito. Mas Hulk atuou bem e não mereceu o bullying que costumamos fazer com os alunos recém-chegados à classe.
Em tempo: galera, tudo bem, tudo certo, mas Fred > Jô.
Blog Marvio Dos Anjos

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