Desde que assumiu o Vasco na emergência do acidente vascular de Ricardo Gomes há pouco mais de um ano,Cristóvão Borges recebeu demonstrações de carinho e hostilidade, sempre cercado por um grupo que se uniu e se fortaleceu na adversidade. Após os jogos em que eram maiores as críticas, os jogadores o esperavam chegar ao meio-campo para descer com ele ao vestiário numa demonstração de rara unidade. Após a goleada de domingo por 4 a 0 para o Bahia, Cristóvão atravessou solitário o gramado de São Januário.Ontem, ele entregou o cargo, que será ocupado provisoriamente pelo auxiliar Gaúcho no jogo de amanhã contra o Palmeiras em São Januário —Tomei essa decisão sozinho, não tive ninguém que me apoiasse. Nem a minha família, nem o Ricardo, e a diretoria não esperava. Sou eu que estou vivendo esse momento, achei que essa fosse a hora.
Como qualquer quebra de relação, é dolorida, machuca. Sei o quanto estou perdendo, mas é a melhor decisão para mim e para o crescimento do Vasco.
DEDÉ: GRATIDÃO DE UM FILHO No lugar da mágoa, o técnico preferiu a gratidão — Deixo um agradecimento especial à torcida, apesar das discordâncias Tivemos grandes momentos e é isso que fica.
E um agradecimento especial ao grupo de jogadores, que me manteve aqui por tanto tempo com toda a exigência e pressão.
Acredito neles, vão dar a volta por cima. Esse agradecimento é de coração, porque sem eles nada disso de maravilhoso teria acontecido.
Em 78 partidas, Cristóvão teve 41 vitórias, 18 empates e 19 derrotas, com aproveitamento de 60,2% dos pontos. Numa trajetória iniciada por Ricardo Gomes, o Vasco já se mantém há 48 rodadas na zona de classificação para a Libertadores, desde o Brasileiro do ano passado.
O bom desempenho foi além dos resultados. Com raro equilíbrio para enfrentar uma situação que era dramática em seu início, Cristóvão mostrou que é possível fazer futebol com serenidade, respeito. A maneira elegante com que ocupou o cargo o acompanhou até o último dia, quando se despediu com sorriso no rosto e um forte abraço no presidente Roberto Dinamite.
— Agradecemos a contribuição que ele deu na continuidade do trabalho do Ricardo. Não era aquilo que desejamos para o clube, mas o futebol vive de momentos. Levou o Vasco a uma condição de vice-campeão brasileiro, está no G-4 há mais de 40 rodadas. As pessoas às vezes enxergam que isso que não é suficiente. Num conversa franca e verdadeira, ele colocou a nós a posição que é muito mais dele. Interpelamos, mas é uma decisão pessoal.
E vamos dar sequência ao trabalho— disse o presidente.
A reação de alguns jogadores indica que Cristóvão usou dos laços afetivos para construir uma rede de solidariedade desde o acidente de Ricardo.
Horas antes de entrar em campo pela seleção, Dedé mandou mensagem de gratidão pelo twitter: “Cristóvão Borges, gostaria muito de te agradecer pessoalmente tudo que aprendi como atleta e como pessoa! Você foi um cara que me tratou como um filho, por isso te respeito muito. Deus te abençoe muito! Muito, mas muito obrigado, de todo o coração!” Até o jogo de domingo contra o Cruzeiro em Belo Horizonte, a diretoria espera ter um novo técnico. Se a volta e Ricardo Gomes está descartada, Joel Santana, com diversas passagens pelo clube, já teria sido sondado, mas seu retorno é difícil por conta de problemas médicos. Com uma artrose no quadril, Joel deve ser operado em breve. Outro nome no mercado é de o Marcelo Oliveira, que acaba de deixar o Coritiba após quase dois no clube paranaense. Contratado recentemente para assumir as divisões de base do Vasco, Mauro Galvão já esteve no comando do time principal. Técnico recordista em permanência à frente do clube, Antônio Lopes está desempregado.
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